Revista Diário - 30ª Edição

Revista DIÁRIO - Edição 30 - 17 ViverBem Doutor Alessandro Nunes Médico professor da Unifap, especializado em Clínica Médica pela Unifesp, e Geriatria pela USP. O Hospital de Emergência (HE) e oHospital de Clínicas Alberto Lima (HCAL) são ab- solutamente incorrigíveis. Não há super- gestor, reforma ou puxadinho que resolva o caos em que se transformaram os dois maiores hos- pitais públicos do Estado. E não, não chegarama esse ponto por culpa Governo X ou Y. Omérito da obra é multi-autoral e coletivo. Mas para enten- der melhor, é preciso conhecer umpouco da das origens do SUS. Criado com a Constituição de 1988, o Siste- ma Único de Saúde assumiu a difícil tarefa de ofe- recer acesso igualitário, universal e integral à Saúde. E uma das estratégias de gestão de recur- sos iniciadas ainda no governo FHC foi a centra- lização dos recursos na União. À época, entendia- se que Estados e Municípios não eram compe- tentes na gestão dos recursos, logo, o Governo Federal se encarregava da distribuição dos mes- mos. Para isso, foramcriados impostos não com- partilhados entre os Estados eMunicípios, o que fez com que a União concentrasse cerca de 70% de todo o orçamento da Saúde. Basicamente, o Governo Federal dizia o se- guinte aos Estados e Municípios: “Eu tenho o di- nheiro. Vocês, não. Caso queiramos recursos, me tragamprojetos e me justifiquemos gastos atra- vés da comprovação de internações, procedi- mentos, exames e atendimentos”. O problema é que alguns Estados pouco competentes na declaração de suas despesas dei- xaramde receber recursos e caminharampara a sucatagem do sistema de saúde. E aqui que vol- tamos aos nossos dois principais hospitais públi- cos. Como HE e HCAL não são informatizados e não declaram vários atendimentos e procedi- mentos, os recursos deixaram de vir, o que aca- bou por onerar o orçamento do Tesouro Esta- dual, por sua vez também escasso. Comestrutura física arcaica, escalas de plan- tão e sobreaviso de necessidade questionável, os hospitais caminharampara centros de hotelaria, pois apenas hospedam pacientes e, praticamen- te, não tratam ou fazem exames e procedimen- tos. Umbomexemplo do impacto desta estrutura está na distribuição dos leitos. Hoje, a maioria dos grandes hospitais separa 30%do total de lei- tos para terapia intensiva. No HCAL, apenas 5% dos leitos são de UTI. Ou seja, deveria ter cerca de 40, porém possui apenas 7 leitos, sendo que alguns estão desativados por falta de aparelhos. Além de não oferecer suporte a pacientes críti- cos, essa carência praticamente inviabiliza cirur- gias eletivas que necessitam de leitos de UTI de retaguarda, como cirurgias cardíacas, neurológi- cas, oncológicas e ortopédicas. Como resultado, alguns pacientes estão esperando há mais de 6 meses por umúnico procedimento cirúrgico, em uma internação que deveria levar até 7 dias. Sim- plificando, um leito hospitalar que deveria abri- gar mais de 20 pacientes em 6 meses, foi ocupa- do por apenas um. Achou umabsurdo? Que tal saber que os dois hospitais não possuem tomografias em funcio- namento, mesmo comdois aparelhos comprados e instalados há quase 10 anos? Logo, pacientes graves ficamsemdiagnóstico e, mais uma vez, as internações se arrastam desnecessariamente. O total de recursos é gasto de forma tão ina- dequada, que faltam verbas inclusive para insu- mos básicos, como luvas, algodão, sondas, agu- lhas, além de medicações como antibióticos e drogas vasoativas. Nossos dois maiores hospitais públicos pos- suem um poder de resolutividade muito abaixo do esperado para o total de recursos gasto. Está na hora dos agentes públicos pararemde discutir “puxadinhos” infrutíferos e reavaliar a necessi- dade da construção de novos serviços. Assimco- mo computadores carregados de vírus. Já passou da hora de formatarmos a Saúde do Estado. AlessandroNunes Entenda porque HE e HCAL precisam ser demolidos!

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