Revista Diário - 30ª Edição

Revista DIÁRIO - Edição 30 - 10 Entrevista que resposta eu ia dar para essa desigualdade? Eu podia ser cientista, morar nos Estados Unidos, receber muito di- nheiro, etc., mas eu ia carregar pra sempre este conheci- mento de que eu tive sorte, mas e as pessoas que não tiveramnão tiveramchance na educação? E aí, trabalhando com a educação, já fui professora, já fiz pesquisa, já traba- lhei na Secretaria da Educação, organizei até movimentos sociais pela educação, como é o Marco Educação. Você vê que o problema está na política, e foi isso queme levou para a política. Diário – O movimento Acredito, criado pela se- nhora. Qual é a razão de ser dele? Tabata - O Acredito é uma ponte entre a sociedade e os partidos. Os partidos, hoje em dia, são as organizações em que as pessoasmenos confiam, porque eles se desconecta- ram da sociedade. A gente temmais de 30 partidos; obvia- mente não temos mais de 30 ideologias. As pessoas têm muitas dificuldades de entrar para esses lugares porque eles têmdonos, porque as pessoas estão lá há décadas, por- que não são democráticos, não são transparentes. Então, o movimento junta pessoas que querem transformar a polí- tica. Diário – Passaria por aí, então, uma renovação dos quadros políticos... Tabata – Eu acredito muito nos partidos; tem muita gente, por exemplo, que defende candidatura avulsa. Não é omeu caso, porque eu sou cientista política. Opartido é im- portante na democracia. Diário – O Movimento Acredito. A inspiração para criá-lo veio de algumoutro projetomais oumenos pa- recido? Tabata – Ele veiomais de uma angústia. A gente sempre via que as coisas não mudavam. Por exemplo, a educação, porque a política e os políticos não queriam. Então, enten- demos que se fôssemos juntos, mesmo sendo cidadãos co- muns, teríamos mais força. É pra isso que serve o movimento: pra cidadãos comuns se unirem e aí tentar mudar a política de dentro. Diário –Oque é pra senhora estar entre as cemmu- lheres mais influentes do mundo? Tabata – É uma grande honra. Eu demorei até umpou- quinho pra entender o que isso significava, porque nesse ranking que a BBC fez tem pessoas que eu admiro muito, como a ativista pelo meio ambiente, a Greta, como a depu- tada federal americana Ocasio-Cortez. Então, por um lado me deixa muito feliz, mas por outro dá uma responsabili- dade gigantesca. É que temmuita menina que não tem al- guém pra se inspirar com mulheres jovens na política. Então, se eu fracassar, seu eu errar, elas vão se decepcionar. Pra mim fica muito forte isso: justamente por terem tão poucas mulheres jovens na política, ainda mais pessoas da periferia, que estudaram em escola pública, eu tenho mil vezes mais responsabilidade. Então, meu papel é mudar como os partidos funcionam, mudar como as eleições fun- cionam pra que essas pessoas também possam entrar no futuro. Luiz Melo – ...E a tal da escola sempartido? Tabata – Esse projeto, que tem um nome com o qual concordo, porque ninguém quer partido na escola, não é baseado em nenhum estudo, e política pública se faz estu- dando, e não tem nenhum estudo mostrando que exista doutrinação nas escolas; o próprio tribunal superior já disse que é inconstitucional esse projeto. Diário – A senhora disse no Roda Viva que tem le- vado chumbo grosso, por ser sincera demais. Tema ver, ou não? Ou está faltando jogo de cintura pra senhora, por ser parlamentar de primeiro mandato? Tabata – Nomeu sincericídio, que falam, acho que a po- pulação tembemclaro o que é ser sincero e o que é ter jogo de cintura. Eu sou uma pessoa muito do diálogo, que senta pra negociar. Sei dialogar, valorizomuito isso, mas temuma diferença bemclara entre saber negociar, ter jogo de cintura e ser mentirosa. Mentirosa não sou. Tem muita gente que diz que se eu continuar falando tudo abertamente, comsin- ceridade, nunca vou conseguir me reeleger. Tudo bem, eu não quero estar numa política onde tenha que mentir. Então talvez não tenha espaço pra mim, mas eu acho que a população está cansada de político quemente, que fala que não é candidato, depois é candidato; que diz que vai votar assim, e depois não vota. Diário – As críticas têm vindo pelo fato da senhora agir de forma bem verdadeira, e também por ser mu- lher e jovemde 25 anos de idade? Tabata – Eu acho que é um pouco das duas coisas. O que incomoda emmim, eu acho que não é tanto eu sermu- lher e jovem, émais eu ter práticas diferentes. Vou dar dois exemplos: todo parlamentar tem direito a 15 milhões de reais de emendas por ano, e tem parlamentar, não são todos, que dá pra prefeitura, pra ONG, pra embolsar uma parte desse dinheiro, e ninguémquestiona isso. Eu tomei a decisão que cem por cento das minhas emendas vão ser por meio de um processo aberto. Forammais de duzentos inscritos. Eu não vou olhar quem está na prefeitura nem pro dono da ONG. Eu quero um projeto de impacto pra mudar a vida dos jovens. São essas práticas que incomo-

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