Revista Diário - 8ª Edição - Junho 2015

Revista DIÁRIO - Julho 2015 - 60 Tragédia no Araguari foi anunciada por Antônio Feijão dois anos antes demunicípio ser atingido por cheia “ Sem qualquer tentativa de menosprezar os efeitos ca‐ tastróficosda inundação impostos aFerreiraGomespe‐ la cheiado rioAraguari noperíododemaior volumede chuvas emmaio deste ano, a tragédia vai acabar represen‐ tandouma festa junina se comparada à cheia que vai atingir o município de Porto Grande em abril e maio do ano que vem, por causadas barragens das três usinas hidrelétricas e da inexplicável falta de proteçãoda cidade a eventuais fenô‐ menos causados pela cheia do rio, o que vai se constituir, comparativamente, a uma grande festa de carnaval, diante das proporções gigantescas da inundações”. O alerta é do geólogo e especialista na área de meio am‐ biente, Antônioda JustaFeijão. Eleexplicaqueagrande inun‐ dação vai ocorrer em decorrência das fortes chuvas nas ca‐ beceirasdorioAraguari noperíododemaiordensidadeplu‐ viométrica durante o ano: “Essas águas chegarão em Porto Grande e encontrarão toda a bacia hidrográfica tomada pelo grande lago cheio em sua cota máxima (maxi morum). Sem encontrar vazão, a água só tem um caminho: as áreas mais baixas. Como PortoGrande não possui muro de arrimo para contençãodessaágua, oquepor si sóécondenável irrespon‐ sabilidade do Poder Público, o desastre será inevitável”. E tudo isso, semqualquer beneficio real para a popula‐ ção dosmunicípios do entorno onde se localizamas três hi‐ drelétricas que, no entendimento dele, foram concebidas sem qualquer estudo de impacto ambiental, em processos de concessão de licenças “no mínimo estranhas”, numa “la‐ mentável constatação” dequeos interesses econômicos são colocados acima das necessidades da população. “Quando as três usinas estiverem funcionando normal‐ mente, todos os empregos gerados nas três unidades não lotarãoumônibus de 50 lugares, porque as usinas serão to‐ talmente controladas digitalmente dos escritórios das em‐ presas emMacapá emesmo emSão Paulo, significando di‐ zer que as centenas de empregos atualmente existentes, se‐ jam de caseiros e nas áreas de mineração ao longo do rio, deixaram de existir, porque tudo ficará debaixo d’água, re‐ sultando emprejuízos sociais e financeiros, resultandonum abalonegativo irreversível na economia doAmapá”, analisa o especialista. Feijão condena, também, a pouca distância entre as três usinas hidrelétricas ao longo do rio Araguari: “Eu não con‐ sigo compreender deque forma sedeuo licenciamentoam‐ biental dessas hidrelétricas. A usina Coaracy Nunes (Pare‐ dão), isoladamente, naquele lugar poucos riscos oferecia à populaçãodosmunicípios ribeirinhos, apesar dos impactos ambientais causados durante sua construção, e ainda senti‐ dos nos dias atuais, inclusive comamortededezenas demi‐ lhares de peixes todos os anos, por causa da abertura e fe‐ chamento de comportas. Entretanto, permitir que outras duas hidrelétricas fossemconstruídas uma ao ladodaoutra, praticamente emfrente avárias cidades, representaumver‐ dadeiroatentadoàvidada fauna eda flora, inclusive comsé‐ rias e graves consequências para o ser humano. Eu não sou contra a construção de hidrelétricas, muito pelo contrário, o que eu defendo é a realização de estudos de impactos am‐ bientais sérios, comelaboraçãode projetos que coloquemo ser humano e a vida animal como prioridades”. ● Texto: Ramon Palhares Geólogo afirma que inundaçãoem Ferreira Gomes é “fichinha”para oque pode ocorrer em PortoGrande Natureza

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