Revista Diário - 3ª Edição - Fevereiro 2015
Revista DIÁRIO - Fevereiro 2015 - 37 E nquanto guianeses e amapaenses trocam afagos e safanões no campo político e social, a cultura aproxima as duas margens do rio Oiapoque e as ma‐ nifestações folclóricas, religiosas e cultu‐ rais se interrelacionam e se visitam em encontros transfronteiriços de grande re‐ percussão, que de certa forma servem pa‐ ra abrasileirar guianenses e afrancesar amapaenses e as gentes de outros cantos da Amazônia e do restante do Brasil que, para chegarem ao Platô das Guianas, pre‐ cisam ter o Amapá como corredor. A instalação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (ALCMS), a partir dos anos 1990, criou as condições para o aumento do fluxo migratório de fora para dentro, ou seja, o Boma guianense passou a incluir em seu itinerário de compras as importadoras amapaenses, o que permi‐ tiu, além do aumento do turismo, a expan‐ são do comércio, dos transportes, da rede hoteleira, entre outros setores, mas em contrapartida, proporcionou a intensifi‐ cação das mazelas sociais que maltratam a população amapaense, como o narcotrá‐ fico, o turismo sexual com o adendo da prostituição infanto juvenil, o inchaço po‐ pulacional, o desemprego, a criminalida‐ de e as agressões ambientais. Muito provavelmente, o início do fun‐ cionamento da ponte binacional recente‐ mente construída deve também se asse‐ melhar a uma faca de dois gumes, uma vez que ao representar a possibilidade de crescimento e ampliação dos negócios econômicos e da interatividade política e sociocultural, pode na mesma medida re‐ dundar no acirramento dos problemas enfrentados pelos amapaenses que, em‐ bora sejam partes de uma unidade fede‐ rativa pretensamente autônoma, sentem‐ se inferiores aos guianenses em termos de qualidade de vida – embora por lá pu‐ lulem problemas econômicos e sociais. Nesse sentido, o pior contraste em meio a tantas discrepâncias comparati‐ vas reside no fato de a Guiana Francesa ainda ser, até o momento presente, um domínio colonial francês, e não se vis‐ lumbrar, pelo menos a olhos vistos, o de‐ sejo daquela população de cortar o cor‐ dão umbilical que a liga ao passado colo‐ nial. Já o Amapá... ● ● Bombaemestradade terra.Umadasmarcasdos intermitentesacirramentosdosproblemasenfrentadospelos amapaensesque, emborasejampartesdeumaunidade federativapretensamenteautônoma, sentem-se inferioresaos guianensesemtermosdequalidadedevida.
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