Revista Diário - 17ª Edição
C om certa dose de certeza posso afirmar que a po‐ pulação do nosso país não possui motivos para se vangloriar da qualidade do serviço público. Embo‐ ra suporte uma das cargas tributárias mais elevadas do planeta, o brasileiro está acostumado com uma estrutu‐ ra urbanística que pode ser comparada com a ostentada por países europeus no século XIV. O sistema público de saúde é caracterizado por falta de leitos, médicos e medicamentos básicos. Por sua vez, o saneamento básicoé medieval e, em certas localidades, inexistente. Contudo, o verdadeiro “ovo da serpente”, a origem de todas as nossas mazelas, reside nos péssimos indicadores da educação pública. Em termos práticos, o brasileiro paga tributos como um sueco e recebe um serviço educacional do mesmo nível de países como Gana. A tragédia da educação pú‐ blica nacional foi acentuada nos últimos anos, com um galopante distanciamento de nossos estudantes dos pa‐ drões ostentados pelos alunos de escolas europeias. O modelo pátrio busca pura e simplesmente manter nossos jovens nas escolas, um ideal similar ao de umme‐ ro depósito humano, desprovido de propósitos e despi‐ do de metas. Assim, alunos que não assimilam o conteú‐ do programático básico são aprovados sempudor na re‐ de pública e alcançam os graus estudantis mais elevados sem mérito ou conhecimento mínimo. Como resultado da tragédia brasileira, mais de 38% dos universitários de nosso país são catalogados como analfabetos funcionais, ou seja, sabem ler e escrever, mas não compreendem minimante um texto, sendo incapa‐ zes de uma simples interpretação. A obscenidade deste dado explica, ao menos empar‐ te, porque um trabalhador brasileiro possui aproxima‐ damente 25% da produtividade de um obreiro alemão. Ora, com parca qualificação profissional, demandamos mais tempo para a mesma prática, sem, contudo, alcan‐ çar idêntico resultado. Não há dúvidas de que o modelo atual não funciona e sua manutenção é garantia de perpetuação de uma mazela inconcebível na 11ª maior economia do planeta. Não há como justificar que a educação no Brasil movi‐ mente tantos recursos financeiros e alcance resultados tão pífios e abaixo do linear da crítica. Apenas para que o amigo leitor tenha uma ideia do desperdício de dinheiro público, um estudante brasileiro matriculado em escola pública recebe um investimento governamental médio de três mil dólares anuais (apro‐ ximadamente dez mil reais). Ora, com este mesmo valor, um pai de aluno poderia matricular seu rebento em di‐ versas escolas particulares de nosso país, quase sempre mais limpas, organizadas, disciplinadas e com material didático mais eficiente. Digo mesmo que poucos pais que conheço deixariam de matricular seus filhos em escolas particulares caso o DiegoBonilla Diego Bonilla, Procurador do Estado e articulista da Revista Diário ARTIGO Procurador doestado Revista DIÁRIO - Edição 17 - Ano 2016 - 66 Alternativas para o ENSINO PÚBLICO noBrasil
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