Revista Diário - 17ª Edição
Ora, se você considerar que nós estamos numestadopobre, que depende exclusivamente de transferência de recursos federais, seja do Fundo de Participação dos Estados, dos Municípios e de verbas extraorçamentárias, isso é muito grave e mostra que o problema da falta de planejamento e gestão não é de agora, já atravessa mais de uma década. O pior disso tudo é não termos a clareza de que isso deva ser ajustado e corrigido para o futuro. Diário – Nas campanhas os candidatos e suas equi- pes se debruçam nos problemas urbanos, nas melho- res soluções, mas depois as administrações acabamse afastando do planejamentomacro e se perdememde- mandas pontuais. Onde estaria omaior gargalo? Alberto – Uma das grandes dificuldades que nós jáma‐ peamos cientificamente é o fato de que as políticas são vol‐ tadas de forma fragmentada. A política habitacional, por exemplo, dissociada da questão ambiental, de mobilidade, de acessibilidade, da própria essência daquelesmunicípios que têm plano diretor, dos seus projetos setoriais, enfim, quando você vai olhar o conjunto das políticas públicas ob‐ serva que elas são desintegradoras. Diário – Fala-se também das dificuldades das pre- feituras reunirem meios necessários a garantir essas respostas, como um corpo técnico. Isso é fato, não é? Alberto – Sim, como tambémo pouco investimento tecno‐ lógico de que as prefeituras também não dispõem, e com isso se repetem erros históricos em relação a uma série de fatores. Nós temos 16municípios e apenas três têmplanos diretores, e desses três, pouco dos planos são aplicados. Os planos diretores vão resolver? Não, mas eles são a base de um instrumento de política pública integrado com as de‐ mais. Enquanto isso não ocorrer, vamos pagar o preço des‐ sas fraturas. Diário – Como assim, professor? Alberto – Emtodo oBrasil temocorrido umfator que o Ministério Público é quemvemassumindo umprotagonis‐ mo de ter que ficar à frente de situações em que é o Poder Público o responsável por isso. Diário – Com tantos problemas, o que dizer ao elei- tor, ao cidadão que tem que resolver seus problemas pessoais e ainda assimé instado a ir às urnas escolher seus representantes eos gestoresmunicipais. Oquedi- zer a ele? Alberto – Olha, o Brasil tem passado nesses últimos tempos por um processo de revitalização das questões de natureza ética e moral, no sentido de fazer valer que a so‐ ciedade também temque ser cumpridora das suas respon‐ sabilidades. E uma das questões importantes para isso é o empoderamento social. Hoje você faz uma opção por um candidato, vota nele, mais ao longo de umperíodo deman‐ dato não procura saber que projetos essa pessoa elaborou, se contribuiu, se participou, então você não se apropria do trajeto da construção daquele candidato emprol do desen‐ volvimento da sociedade. Hoje é preciso ver quem é o can‐ didato, onde ele está agregado, qual é a história dele, o que ele produziu, quais são os efeitos que isso resultou para a sociedade. Nós precisamos acabar comessa coisa do é dan‐ do que se recebe. Dessa coisa dos grupos que colocam os níveis de favorecimento. Diário – Isso é umproblema… Alberto – Veja só: quem vai te dar alguma coisa vai te cobrar depois. E vai te cobrar da pior forma possível, e isso tem preço para a sociedade. E o preço é exatamente man‐ datos esdrúxulos, mandatos semplanejamento, semgestão, semo comprometimento. Mas pior do que os representan‐ tes políticos é a sociedade que deixa de fazer a sua parte, através das associações, das organizações e isso contribui para todos os outros fatores adversos dos problemas que vivenciamos. Ao eleitor, a mensagem de que ele também precisa ser um cidadão responsável, uma pessoa compro‐ metida com o conjunto da sociedade. Nós temos uma pés‐ sima mania de achar que são só os políticos os culpados, mas os políticos foram referendados pela sociedade, então se nós não exercermos essa prerrogativa de estar à frente e assumir esse protagonismo evidentemente que os proble‐ mas só terão a aumentar. Diário – Para fechar, professor, dê uma dica de lei- tura para nossa comunidade. Alberto – Eu posso indicar até aos nossos leitores um livromuito importante que até é bemapropriado para esse momento, já que nos próximosmeses teremos uma eleição, coma campanha, a fala dos candidatos, enfim, que é o livro de um autor espanhol chamado Fernando Savater, cujo tí‐ tulo é ‘A importância da escolha’. Olha, nós todos temos odi‐ reito de escolha e pagamos um preço se nós escolhermos errado, então esse livrode algumamaneira temostra os ca‐ minhos pelos quais você é responsável pela sua escolha. ● Atualmente épesquisador do InstitutoSuperior deArtes eprofessor Associado II daUniversidadeFederal doAmapá. Teveo livro comsua dissertaçãodepós doutoradopublicadopelaUniversidadedeCoimbra (Protigal) como título“Transformações urbanas depequenas cidades na faixade fronteira setentrional”. Tambémfez estágiodepós doutoradoemarquiteturapela UniversidadedoPortonos anos de2011 e2012. Revista DIÁRIO - Edição 17 - Ano 2016 - 79
RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=