Revista Diário - 17ª Edição
Revista DIÁRIO - Edição 17 - Ano 2016 - 47 A centenária tem oito filhos, cinco mulheres e três ho‐ mens. Tem o os nomes de‐ les na ponta da língua, na sequên‐ cia de nascimentos: as mulheres Joana (falecida), Ana Maria (fale‐ cida), Raimunda, Josefa e Rita; os homens José Pedro, José Isaías (popular Bomba D’água) e Aure‐ liano Neck. Neck é o famoso puxa‐ dor de samba carnavalesco. Dona Josefa sempre foi uma mulher ativa. Trabalhou no então campo da aviação ou aeroporto de Macapá, quando ainda era na avenida FAB; foi funcionária da prefeitura e suou muito em plan‐ tações de cacau no Curiaú Mirim, mas sempre presente em casa, cuidando do marido Joaquim Santana da Silva, hoje falecido, e dos filhos. O marabaixo entrou pra valer na vida de Tia Zefa quando ela ti‐ nha dez anos de idade. De lá pra cá, nuncamais o largou. Ainda ho‐ je, na época da festa, ela se enga‐ lana toda e participa ativamente, dançando, tirando ladrão, ajudan‐ do em tudo do que é preciso pra tudo ser realizado nos conformes. A marabaixeira conta que abraçou a manifestação folclórico cultural como herança de seus avós. Mas ela dá uma alfinetada na forma como o marabaixo é reali‐ zado atualmente. “Hoje em dia tá tudo mudado. Quando me enten‐ di, tirava o ladrão; hoje em dia é qualquer coisa”, diz. “Eu vou, eu, eu vou/Eu vou por aqui além/ O meu destino é de chegar em San‐ tarém e Belém/. Josefa Lima da Silva também lembra que no marabaixo antigo não se precisava do governo para a realização da festa. Nósmesmos, todos os participantes, fazíamos o festejo com o nosso suor; a gente comprava a roupa, sapato, toalha e depois dançava e cantava. Era uma alegria só”, registra. Um costume no tempo áureo de Tia Zefa era a pavulagem da pretalhada. Ela conta que no Do‐ mingo do Espírito Santo, quem podia comprar roupa nova, ia pra festa se mostrar durante o dia. Tinha gente que vestia um indu‐ mentária de manhã, outra à tar‐ de e uma terceira à noite. Mas quem não podia se dar a esse lu‐ xo, saía de casa só à noite, de rou‐ pa velha. Dona Josefa conversou comigo numa manhã ensolarada sentada numa daquelas cadeiras chama‐ das de macarrão, no pátio de sua residência há 70 anos, na avenida Ernestino Borges, 763, bairro La‐ guinho. Acompanhava‐se da filha Josefina, que constantemente via‐ ja entre Belém e Macapá. Casada na capital paraense, Zefina todo fevereiro vemaMaca‐ pá, para o aniversário da mãe, bem como em maio, para o Dia das Mães, e fica para o marabaixo em julho. Emagosto já está de vol‐ ta, agora para a Festa de São Joa‐ quim, no Curiaú. Tia Zefa relembra que herdou o marabaixo de seus avós, mas considera que participa das fes‐ tas no lugar da mãe, que se cha‐ mou Joana e que antes de morrer, disse‐lhe: “Olha, Josefa, eu já te ensinei a cantar, a dançar. Estou pra me aposentar, e você fica no meu lugar’. Escutando ainda mais um la‐ drão, “Se estou aqui cantando/ Minha mãe me incentivou/ Agora estou na roda/ Fazendo o que ela mandou/ Por isso, minha mãezi‐ nha, que estou hoje a cantar pra nós/, despeço‐me da centenária marabaixeira, desejando‐lhe bom dia, e ela: “Bom dia, força pra che‐ gar onde estou”. ● ● Puxando ladrão ou dançando, Tia Zefa é uma marca do marabaixo.
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