Revista Diário - 17ª Edição

Q uem disse que não pode‐ mos viver em uma grande mentira? Na ficção e na vi‐ da real, somos lançados a menti‐ ras rotineiras que, de tão massa‐ crantes, podem virar verdades absolutas. E parece ser assim com o sistema público de saúde amapaense: uma verdadeirama‐ trix, onde temos a sensação de viver em mundo paralelo, em que, cada vez mais, uma rotina tão cruel traz dúvidas se estamos vivendo no “mundo real”. Criado com a Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde – SUS passou por muitas prova‐ ções, mas já coleciona louros, in‐ clusive com reconhecimento in‐ ternacional. Apesar do orçamen‐ to limitado e do imenso desafio, a saúde pública brasileira vem melhorando país afora. Já o Amapá parece fugir totalmente à essa regra desde os primeiros dias do SUS. Para entender melhor, imagi‐ ne que você venha a sofrer um infarto no coração e resolva pro‐ curar o Hospital de Emergência de Macapá. Lá, será atendido por vários profissionais desesti‐ mulados, seja por salários atrasados, condi‐ ções de trabalho ou, simplesmente, por não ve‐ rem resultados efetivos no seus esforços. Após avaliação médica, receberá a notícia de que vá‐ rios exames não serão realizados e de que você será enviado para algum corredor ou mesmo para sala de espera, já que o maior hospital de urgência do estado não possui uma simples sa‐ la de emergência, onde pacientes graves (como aqueles com infarto, AVC, sepse e acidentes graves possam ser atendidos imediatamente). Caso o único aparelho de eletrocardiograma do hospital não esteja quebrado, alguém reco‐ nhecerá que você não estará bem e pedirá uma vaga de UTI que, provavelmente, será negada já que o estado possui menos de 20 leitos de UTI, quando deveria ter cerca de 720 vagas (sim, possuímos menos de 3%da necessidade de leitos de UTI). Mas você é uma pessoa de sorte! E chegará logo após dois óbitos na UTI e conseguirá uma das vagas. No caminho até seu leito, perceberá corredores estreitos, sujos, materiais sucatea‐ dos e quebrados. Na UTI, estranhará leitos pró‐ ximos, sem isolamento, ausência de materiais simples como luvas, álcool sondas, cateteres e, até mesmo, medicamentos básicos. Estranhará o fato de todos escreverem à mão e perceberá Dr. AlessandroNunes SUSdoAmapá: ViverBem Doutor Alessandro Nunes, Médico professor da Unifap, especializado em Clínica Médica pela Unifesp, e Geriatria, pela USP. Revista DIÁRIO - Edição 17 - Ano 2016 - 16

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