Revista Diário - 16ª Edição - Junho 2016

E m Macapá, famílias de baixa renda, geralmente chefiadas por mulheres residentes em bairros periféricos, são cooptadas pelos traficantes para que as casas onde moram se transformem em “bocas”. O argumento é o mesmo: possibilidades de ganhos fáceis acima dos R$ 3 mil por mês, e consequente melhora no padrão de vida. Foi o que aconteceu à dona de casa Maria Rodrigues de Lima, 51 anos, moradora do Buritizal, Zona Sul de Macapá. Antes de ser presa, ela ganhava a vida vendendo bugigangas na feira do bairro, ou fazendo pequenos biscates para os parentes e vizinhos. O que ganhava era insuficiente para sustentar a numerosa família. Por isso, enfrentava grandes dificuldades financeiras, inclusive, revelou em depoimento, chegou a passar fome. O negócio das drogas surgiu por meio da filha dela, Elizângela Rodrigues de Lima, 28 anos. E tornou‐se próspero porque contou com o apoio de outros membros da família, além de estabelecer um sistema de comercialização ininterrupto, com atendimento 24 horas. O intenso movimento, contudo, incomodou os vizinhos. O entorno da casa virou área de altíssimo risco para os moradores, em especial para as jovens estudantes que precisavam passar pelo local depois das 22 horas. Vários foram os casos de tentativas de estupro cometidos por drogados ocorridos às proximidades da “boca” da ex‐dona de casa. Durante a operação policial dentro da casa de Maria Rodrigues, foram apreendidos notbooks e vários aparelhos eletroeletrônicos. Segundo hipótese apresentada pelos policiais após as buscas, possivelmente foram deixados por viciados em troca de droga. ● Famíliacarente transforma residência em “BOCA” RAIOX Revista DIÁRIO - Junho 2016 - 75 A s prisões dos traficantes e o rompimento da corrente criminosa são insuficientes para conter a venda de entorpecentes na capital do Estado, impulsionada pelo crescente consumo promovido por jovens das classes média e alta. Semdescartar, porém, a afluência da juventude periférica, usuáriamaior de drogas acessíveis como o crack e o óxi, comprovadamentemais baratas, pesadas e letais. A quantidade de novas “bocas” (pontos de venda de drogas) que surgemem profusão, suplanta as desativadas pelas operações policiais. Traficantes são presos, condenados e trancafiados nas celas do Iapen, mas, empoucos dias surgemoutros em substituição aos anteriores, e cada vez mais audaciosos e violentos. “O trabalho policial apresenta bons resultados. Porém, os traficantes são emmaior número”, assinala Robson Costa.

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