Revista Diário - 16ª Edição - Junho 2016

U ma equipe de reportagem do Sistema Diário de Co‐ municação registrou o surgimento de uma grande cracolândia na área verde em frente à residência ofi‐ cial do governador doAmapá. No local, mais de 20usuários de crack erguerambarracos comlonas e papelão, mais exa‐ tamente embaixoda arquibancada de umcampode futebol que deixou de ser usado justamente por causa do aumento dos índices de violência naquele trecho da orla de Macapá. A maior parte dos usuários e traficantes que agem no local é de menores de idade, e muitos, homens e mulheres, admitem que fazem programas sexuais para comprar dro‐ gas. Catarina Gomes (nome fictício), de 16 anos, confessou que se sente obrigada a se submeter a programas sociais, muitas vezes por umaninharia, para sustentar ovício: “Uma pedra de crack custa cerca de dez reais e é vendida aqui mesmo; eunão tenho outra alternativa a não ser fazer sexo, às vezes por até cinco reais, suportando todo tipo de humi‐ lhação, mas fazer o quê, né?”, resigna‐se. Outra usuária, Georgina Gonçalves (nome fictício), 32 anos, que também atua como mula, descreve a rotina dos ocupantes do local: “Eu, por exemplo, uso drogas desde os 14 anos; por causa da droga acabei saindo de casa e aban‐ donei a escola; hoje soumãe de um casal de filhos, que são criados por minha mãe; ela sofre muito com a minha vida, mas não tem jeito; tem um cara que vem aqui, às vezes de moto, outras vezes de carro, pelomenos três vezes durante a noite para trazer pequenas quantidades de drogas, que são vendidas por nós; namaior parte das vezes recebemos droga comopagamento; para comer, saímos pedindopor aí oumesmo fazemos coisas erradas, como roubos e furtos”. Apesar de ser do conhecimento de toda a população, a ‘cracolândia governamental’, como passou a ser conhe‐ cido o local, continua crescendo, sem que os órgãos de segurança pública empreendam ações efetivas para coi‐ bir o tráfico. O pior é que sem que os órgãos das áreas social e de saúde do governo do estado e da Prefeitura de Macapá executem política públicas para estancar o problema, mesmo diante de um quadro cada vez mais degradante que se apresenta, inclusive com incidência de doenças sexualmente transmissíveis. Ousuário de crack Cláudio Roberto (nome fictício), por exemplo, é soropositivo: “Fiz o exame e descobriram que eu tenho Aids, mas não faço tratamento; essa doença mal‐ dita não tem jeitomesmo; e, como cedo ou tarde voumor‐ rer, isso é a única certeza que tenho nesta vida, então eu vou vivendo do jeito que posso”. Segundo ele, várias outras pessoas que convivem no local também já foram diagnos‐ ticadas comAids e câncer. ● Um local inusitado abriga uma boca de fumo a céu aberto emMacapá: a frente da residência oficial do governador, localizada namargemesquerda do rio Amazonas, na orla da capital. Dramasocial ● Desolação no rastrode viciadosem drogas, álcool e tudoomais quepárias sãocapazes de fazer. ‘Quintal’ da RESIDÊNCIAOFICIAL do governador abriga BOCADEFUMO Revista DIÁRIO - Junho 2016 - 72

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