Revista Diário - 16ª Edição - Junho 2016
M aria Bernadeth (nome fictício), de ape‐ nas 14 anos, transformou o calçadão do prédio do antigo Aninga em ‘re‐ sidência e ponto comercial’. No local, que ocupa um quarteirão inteiro do bairro No‐ vo Buritizal, já funcionou uma unidade hos‐ pitalar e, mais recentemente, abrigava um setor da Secretaria de Estado de Trabalho e Empreendedorismo. Atualmente se encontra abandonado. Juntamente com outras cinco pes‐ soas, Bernadeth trabalha como ‘mula’, pessoa usada por traficantes para vender drogas. No espaço são comer‐ cializados crack emaconha para uma clientela diversifica‐ da, a maior parte da classe média‐alta. Apesar do que faz se tratar de crime, a adolescente encara a atividade como uma profissão qualquer, e não admite nem falar sobre a possibilidade de se submeter a tratamento. Ela concordou em conversar com a reporta‐ gem da Revista Diário, mas não permitiu qualquer tipo de filmagem. Bernadeth reconhece que o caminho que escolheu não tem volta, e confessa que também faz programas: “Olha, eu não sou de se jogar fora, não; com um trato os homens não resistememuitas vezes pagambem, apesar de que de vez emquando tenho queme submeter a verdadeiros lou‐ cos; recentemente, inclusive, apanhei muito de um, porque ele me buscou na Beira Rio (orla da capital) e depois descobriu que faço ponto no Aninga”. De vez em quando passam viaturas da Polícia Militar no local, mas poucas vezes ocorrem abordagens. Segundo um policial que pediu para não se identificar, são incon‐ táveis as vezes que efetua prisões no local, in‐ clusive com flagrante de drogas, mas logo depois os infratores são postos em liberdade. “É perda de tempo prender esses elementos. Por isso a prostituição e o tráfico de drogas aumentammuito emMacapá, não ape‐ nas no Aninga, porque as cracolândias surgem do dia pra noite em toda a cidade”, lamenta o policial. No entorno do Aninga os moradores vivem apreensi‐ vos diante das ações ostensivas de traficantes e prostitu‐ tas. A dona de casa Conceição Costa (nome fictício) recla‐ ma da vizinhança incômoda: “Esse local é maldito! A polí‐ cia não age e nossas crianças e jovens têm que conviver com essa má influência. São pessoas que não possuem senso do ridículo, trocamde roupa emplena calçada, con‐ somem e vendem drogas e até mesmo fazem sexo nas fu‐ ças de todomundo. Nós que pagamos impostos somos ob‐ rigados a conviver com essa patifaria”. ● MACAPÁ, paraísopara a PROSTITUIÇÃO ETRÁFICO e consumode drogas Dramasocial Cracolândias proliferamemtodos os bairros da cidade. Políciamuitas vezes deixa de agir porque, flagrados, delinquentes raramente permanecempresos Texto: Ramon Palhares Revista DIÁRIO - Junho 2016 - 70
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