Revista Diário - 16ª Edição - Junho 2016

Me ntira Riqueza CláudiaOliveira Psicóloga clínica Consultório Psiqué Avenida FAB, 1070 - Sala 306 - Edifício Macapá Office - 98127-0195 Revista DIÁRIO - Junho 2016 - 5 Dra. CláudiaOliveira Q uem disser que nunca mentiu, já está mentindo. A mentira é comum e está por toda parte, ditamuitas vezes perto de nós, e talvez por nós mesmos. Muitas vezes, estamos mal, morrendo por dentro, e quando encontramos um conhecido que nos pergunta se estamos bem, de pronto respondemos que sim. Evidentemente, nem sempre nos convémdizer pra todomundo o que estamos sentindo. É uma mentira pequena, que não traz consequênciasmaiores. Ou, quando ga‐ nhamos um presente, que não gostamos. Dizer a verdade, dependendo da pessoa, poderia aca‐ bar magoando aquele que nos presenteou. Agora, precisamos ficar atentos quando essa mentira passa a ser um vício, passa a se confun‐ dir com algo corriqueiro. Na infância, quando é comuma criança ter a fase conhecida como a Fa‐ se do Pinóquio (personagemmentiroso, que em cada mentira seu nariz cresce), podemos enten‐ der esse comportamento devido à imaturidade mental, além de que muitas crianças possuem dificuldades de enfrentar as críticas e as frustra‐ ções, e acabammentindo, na tentativa de terem seus ganhos, como a necessidade de agradar e seremreconhecidas. Agora, quando percebemos que essa criança começa a entender suamentira como verdade, e que não tem nenhuma conse‐ quência negativa para ela, pode‐se pensar nessa mentira como uma patologia, classificada como mitomania. Esse distúrbio, embora não tenha uma causa específica, pode ter origemna super‐ valorização de suas crenças, bem como na au‐ toestima baixa dessa criança, podendo ela per‐ ceber que suas mentiras a fazem ser aceita, ad‐ mirada e valorizada. É uma necessidade de apre‐ ço ou atenção e a tentativa de se proteger de si‐ tuações constrangedoras. No adulto, percebe‐se que uma mentira vai se tornando algo compulsivo, uma espécie de há‐ bito, qualquer coisa, por mais simples que seja, onde poderia se analisar, como algo desnecessá‐ rio, passa a ser, praticamente uma obrigatorie‐ dade. Algumas vezes, são pequenas mentiras, outras vezes, são cheias de detalhes, muito bem elaboradas, fazendo com que todos acreditem nelas. São indivíduos quementemdesde criança. Para essementiroso compulsivo, dizer a verdade pode ser algo extremamente desconfortável. A maioria dos mentirosos compulsivos não é ne‐ cessariamente manipuladora, ela sofre com seu hábito de mentir, tendo as relações sociais sem‐ pre sob risco de serem quebradas. As pessoas que mentem, não mentem por nada. Toda ação é acionada por uma reação. Dor‐ mimos porque temos sono, comemos, porque te‐ mos fome, e assim também com a mentira, seja por ser aceito, seja por ser admirado, ou seja por uma patologia. O portador da Mitomania, saber que está mentindo, tem consciência disso, mas não tem consciência plena da intenção de cada mentira, diferentemente do sociopata, que sabe de seu objetivo, a partir daquela mentira. A mentira patológica, persevera, represen‐ tando uma característica da personalidade do portador. Em suas histórias, ele aparece sempre de forma favorável. Por exemplo, a pessoa pode ser apresentada como sendo fantasticamente corajosa ou estar relacionada com muitas pes‐ soas famosas. Quemnão lembra do caso daque‐ le homem que se passou por filho do dono de uma grande empresa aérea do Brasil, e conse‐ guiu feitos inimagináveis? Sua história virou até filme, ''VIPs". É natural que como tempo as pessoas come‐ cem a perceber as mentiras de um mitômano (portador damitomania). Muitomais importan‐ te do que identificar essas mentiras, é perceber que esse ato é patológico, e que pode estar inti‐ mamente ligado a diversas doenças, como por exemplo os transtornos de personalidade antis‐ social e transtorno de personalidade borderline, dentre outros. O diagnóstico da mitomania pode ser feito pelo médico psiquiatra ou psicoterapeuta após uma avaliação. ● "Mentira é dizer aquilo que não se pensa". (Santo Agostinho) Comportamento

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