Revista Diário - 16ª Edição - Junho 2016

T odos já conhecem as jornadas itineran‐ tes da Justiça do Amapá junto às comu‐ nidades do arquipélago do Bailique, dis‐ tante 12 horas de navegação pelo caudaloso rio amazonas. A atenção do Tribunal de Justiça dedicada aos ribeirinhos com pacotes de ser‐ viços da administração pública rende elogios e parabéns. O povo ali espera ansiosamente a presença bimestral do barco da Justiça, seja para reclamar seus direitos ou obter outros serviços que sempre vão a reboque. Entre os trabalhos não é difícil se deparar comsituações inusitadas, que chamamà aten‐ ção pela curiosidade. Vale a pena, por isso, re‐ prisar algumas delas, de maneira bem infor‐ mal, para registro na história. O caso Brucelin - Pois bem, que tal con‐ tarmos a demanda do Brucelin? Isso mesmo. Eis o nome do guri: Brucelin. Ele e os pais compareceram ao barco da Justiça, “sede do fórum” da Vila Progresso, para reclamar justa‐ mente do nome que lhe fora atribuído. Para o menino de apenas 10 anos, esse nome é moti‐ vo de chacota na escola e na comunidade. Nin‐ guémentendia o porquê do nome emuitome‐ nos a origem. O constrangimento, então, cau‐ sava‐lhe até problemas de relacionamento com os próprios pais. Enfim, o menino gosta‐ ria de alterar o antropônimo. Passamos a causa para a Defensoria Públi‐ ca e ouvimos o Ministério Público, tudo “nos conformes”. Em audiência, indaguei ao pai so‐ bre a origemdo nome. Resposta: “Prestei uma homenagem a um lutador de artes marciais”. Espantei‐me na hora! “Não é possível, se for quem eu estou pensando, o homenageado morreu há mais de 40 anos, 30 a mais que o garoto ribeirinho”, disse ao inquirido. Omenino nunca ouvira falar de Bruce Lee, lendário lutador de artes marciais, precursor do Kung Fu nas telas do cinema e daí para o mundo. Era o único nomemais aproximado de Brucelin. Eu disse ao garoto que essa homena‐ gem prestada se referia a uma celebridade do cinema, grande lutador de artesmarciais e que falecera no auge da carreira. Eumesmo – con‐ fessei – era fã dele! Não convenci o garoto, ele queria trocar o nome e pronto! Expostos todos os percalços dessa altera‐ ção, ali plena e juridicamente justificável, o ga‐ roto, desde logo, disse que tinha até um nome escolhido, como qual se sentiamais tranquilo e sem aqueles constrangimentos, já era até chamado por esse novo nome entre os amigos e familiares. Curioso, perguntei‐lhe sobre o novo nome e a origem. Ele respondeu: “Escolhi meu nome entre tantos outros que eu encontrei num li‐ vro, a Bíblia Sagrada. “Meu novo nome é Sa‐ muel”, pontificou o garoto. Não sei se ele sabia disso, mas Samuel significa “Nome de Deus” ou “Seu Nome é Deus”. Sem achegas, o nome foi alterado. Trocou‐se o “deus das artes mar‐ ciais” pelo Todo Poderoso... Uma curiosidade que até merece reflexão, não acham? É isso aí. ● Juiz José Luciano de Assis Revista DIÁRIO - Junho 2016 - 26 Jornadas itinerantes do Bailique e seus registros pitorescos Curiosidades

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