Revista Diário - 11ª Edição - Outubro 2015
Revista DIÁRIO - Outubro 2015 - 65 ViverBem DoutorCláudioLeão, clínico geral Doutor Cláudio Leão, Clínico geral e coordenador da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Camilo. A saga dos transplantes 1 967 foi marcante para a medicina mundial. Nesse ano, o cirurgião Christian Barnard realizou o primeiro transplante de coração, dando início à grande saga deste tipo de cirurgia que se espalhou posteriormente para outras modalidades. Seu paciente era Louis Washkan‐ ky, 54 anos, dono de umamercearia e que sofria de insuficiência cardíaca congestiva. Washkans‐ ky recebeu o coração de uma jovem, Denise Darval, morta emacidente de trânsito. Ele viveu 18 dias e faleceu de pneumonia em consequên‐ cia das drogas imunossupressoras que estava ingerindo. “Para uma pessoa que estejamorren‐ do, um transplante não é uma decisão difícil. Se você é perseguido por um leão, e correr para um rio cheio de crocodilos, pulará na água acredi‐ tando que temchance de nadar até o outro lado. Mas você nunca pensaria em fazer isso se não tivesse que fugir de um leão”, pensava Christian. Dois desenvolvimentos fundamentais torna‐ ram possível o avanço em transplantes. O pri‐ meiro foi uma descoberta de Karl Lan de dife‐ rentes grupos sanguíneos, em1900. O segundo, a técnica de sutura de fina de Alexis Carrel, pois permitiram transplante experimentais usando rins de animais. No entanto, os transplantes se tornaram confiáveis e bem sucedidos quando o proble‐ ma da rejeição de enxertos de tecido foi re‐ solvido. Um dos pioneiros nesse campo foi o pesquisador inglês Peter Medawar, que des‐ cobriu durante durante os anos 40 e 50 que os enxertos de órgãos eram rejeitados por uma resposta do sistema imunológico. Com essa pesquisa, ele dividiu o Prêmio Nobel de Medicina em 1960. Esse conhecimento preparou o terreno para a descoberta de drogas imunossupressoras, que preveniam que as células brancas do san‐ gue do receptor atacassem o tecido doado. O primeiro transplante bem sucedido de umdoa‐ dor morto foi um receptor renal, e viveu 21me‐ ses, em1962. Outros transplantes vieram rapi‐ damente depois como o de fígado e pulmões, em 1963; o de pâncreas em 1966 e o outrora intocável coração, em 1967. Nem todos os pro‐ cedimentos tiveram sucesso, sendo que alguns dos receptores só sobreviveram alguns dias, mas mesmo assim a viabilidade dessa ferra‐ menta estava comprovada. Os sucessos se tor‐ naram mais frequentes à medida que os cirur‐ giões ganharam experiência e as drogas imu‐ nossupressoras foram aprimoradas. O período de sobrevida pós‐operatória aumentou para meses e, posteriormente anos, ao mesmo tem‐ po em que uma variedade de órgãos e tecidos começou a ser transplantada com sucesso. Em 1973 se realizou o primeiro transplante deme‐ dula óssea bem sucedido de um doador sem parentesco como receptor, emNova York, e em 1988 o primeiro transplante de nervo ciático permitiu que um menino voltasse a andar de‐ pois de um acidente. Em1983 o transplante de orgão sofreu uma revolução quando a ciclosporina foi isolada de um fungo que crescia em solo norueguês. Os procedimentos de transplantes que antes ti‐ nham uma alta taxa de fracasso se tornaram imediatamente viáveis comessa droga imunos‐ supressora. E vieram transplantes de outras partes do corpo como mãos, pés e até face. E a saga da cirurgia dos transplantes conti‐ nua sua caminhada até nos dias de hoje com a caminhada da Medicina. ●
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