Revista Diário - 11ª Edição - Outubro 2015
A s negociações foram feitas en‐ tre o próprio governador e as principais lideranças dos ne‐ gros como Julião Tomaz Ramos, Rai‐ mundo Ladislau (representando o grupo que rumou para o Laguinho) e Gertrudes Saturnino (líder do gru‐ po que se dirigiu para a Favela) e, alémde garantir os lotes de terrenos, o GTFA também forneceu material para a construção das novas casas e Janarymanteve sempre contato com as lideranças em questão. Esse fato possui simbologia e representativi‐ dade imensuráveis e pode‐se dizer que foi um verdadeiro “divisor de águas” na história do Amapá, com implicações e repercussões políticas, econômicas, socioculturais e religio‐ sas. Em relação ao Laguinho, parti‐ cularmente, um novo universo aca‐ bou sendo forjado pelos afrodescen‐ dentes a ponto de no curso de sua evolução histórica, esse bairro ter se tornado omais tradicional da capital e de todo o estado, transcendente, inclusive aos limites reais e imaginá‐ rios do próprio Amapá. No Laguinho, a comunidade afro‐ descendentemitificoumanifestações e entidades culturais e folclóricas além do forte conteúdo religioso ca‐ tólico com condimentos sincréticos que passarama caracterizar o bairro desde sua origem. A instalação da pa‐ róquia de São Benedito nos anos 1950 – batizada com o nome de um santo negro – e a Festividade em seu louvor realizada anualmente no co‐ meço do mês de setembro são pon‐ tos altos do calendário católico; oMa‐ rabaixo e o Batuque, danças tipica‐ mente afrodescendentes que incor‐ poram vertentes do catolicismo po‐ pular e que se revestemde conteúdo poético e musical na medida em que são dançadas e cantadas com letras que, entre outrosmotivos, se referem ao cotidiano da gente do bairro, sen‐ do que a primeira ainda tem suporte de sabor com a “gengibirra”, bebida feita com o emprego de gengibre e aguardente de cana (cachaça); todos os anos, por ocasião das comemora‐ ções da Semana da Consciência Ne‐ gra no Amapá, no mês de novembro, a União dos Negros do Amapá (UNA) e o Centro de Cultura Negra do Ama‐ pá (CCNA) realizam, desde 1998, o “Encontro dos Tambores” nas depen‐ dências da primeira onde também funciona o segundo. Entre os grupos mais conhecidos e renomados em todo o estado des‐ tacam‐se o Marabaixo do Laguinho, Raimundo Ladislau, Raízes do Bolão e Pavão e, entre as personalidades do canto, da dança, da percussão e da composição, o Laguinho temDannie‐ la Ramos, Laura do Marabaixo, Rai‐ munda Ramos, Piedade Videira, Adelson Preto, Nena Silva, Pedro Ivo Guto, Pedro Bolão, Pedro Ivo Guto, Alessandra Azevedo, além de vários outros. O grupo de dança Afro Baraká apresenta‐se no Amapá, em outros estados e até no exterior com Pieda‐ de Videira, Mery Baraká, Djane Estre‐ la, Letícia Rosa junto a outros dança‐ rinos. No âmbito do carnaval e das festas populares, a Associação Uni‐ versidade de Samba Boêmios do La‐ guinho e Piratas Estilizados são agre‐ miações carnavalescas tradicionais do carnaval amapaense, sendo que a primeira pioneira entre todas as es‐ colas de samba do estado; na quadra junina os grupos Simpatia da Juven‐ tude, Estrela do Norte, Tradição Juni‐ na, Coração Vermelho e Branco, Bro‐ che Vermelho estão entre as quadri‐ lhas de destaque; no circuito da toa‐ da, Estrela do Norte e Troupe Tribal. No dia 26 de dezembro comemora‐ se há mais de quatro décadas o ani‐ versário ”Banco da Amizade”, que fi‐ ca na Avenida General Rondon ao la‐ do da escola Azevedo Costa, com shows, comida, bebida e atrações cul‐ turais e artísticas. E a diáspora lagui‐ nhense sempre se cumpriu com o carnaval a namedida emque na Ave‐ nida FAB ou no Sambódromo, os pre‐ tos voltam ao centro para arrebatar títulos do carnaval e trazem troféus para sua galeria de triunfos. Por to‐ dos esses aspectos e outros tantos, sabe‐se para onde vai o rapaz por es‐ ses caminhos sozinho e ao mesmo tempo cheio de um “mundaréu” ou uma “vuca” de gentes. ● Revista DIÁRIO - Outubro 2015 - 45 ● Antigo PoçodoMato ● Largo de São José. ● Banco daAmizade. ● Antigos batuqueiros.
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