Revista Diário - 9ª Edição - Agosto 2015

MeioAmbiente A situação do rio amapaense é do conhe‐ cimento do mundo, mas até agora as au‐ toridades do setor ambiental do Amapá e do país ainda não tomaram providências concretas para conter o avanço da degradação e muito menos para recuperar o meio ambien‐ te da região. “A Deus dará” seria a expressão mais corre‐ ta para descrever como se encontra o Araguari em sua parte leste. A força do rio, muito redu‐ zida, já não mais enfrenta a maré oceânica, o que provocava a famosa pororoca. No lugar do fenômeno, a invasão do Atlântico ao Araguari e a consequente salinização da água que neste estado mata ou afugenta a fauna da região e dizima a flora. Um dos maiores defensores do meio ambiente do Amapá, o com‐ positor e cantor Osmar Júnior confessa que no seu repertório não mais terá novas canções so‐ bre o Araguari. “Cansei de can‐ tar esse rio, de defendê‐lo. Sin‐ to‐me impotente diante da des‐ truição a que o Araguari vive, melhor dizendo, sobrevive”, de‐ sencanta o poeta. Apesar da baixa do nível e dos vários des‐ vios do curso d’água, paradoxalmente em maio passado o rio Araguari inundou sobre‐ maneira Ferreira Gomes. Foi a maior enchente daquele município, uma coisa inesperada. A cidade anoiteceu em condições normais e amanheceu tomada por água. A causa da en‐ chente? Abertura das comportas da hidrelétri‐ ca Cachoeira Caldeirão, ainda sendo erigida. As comportas foram abertas para evitar pro‐ blemas numa ensecadeira da obra. O geólogo e ambientalista Antônio da Justa Feijão prevê uma enchente em muito maiores proporções da ocorrida em Ferreira Gomes, em maio do próximo ano, mas no município de Porto Gran‐ de – também por causa das hidrelétricas e ain‐ da pelos desequilíbrios ecológicos ora existen‐ tes no rio Araguari. O Instituto Chico Mendes avalia que a ativi‐ dade pecuária, principalmente a criação de bú‐ falos, criou valas e canais que drenaram e con‐ tinuam drenando o curso do rio. Antônio Feijão vai além. Ele afirma que os búfalos do Araguari não só abrem valas e canais, mas também criam rios. É o caso, registra o ambientalista, do Urucurituba, que antes era um canal e hoje é um caudaloso curso d’água. ● Submetido a uma das maiores degradações ambientais já vistas na Amazônia, o rio Araguari, no centro leste do Amapá, está sumindo a partir do município de Ferreira Gomes. O curso de água doce desceu de nível na aproximação com o oceano Atlântico, represado por três hidrelétricas e desviado por canais espontâneos feitos pela intensa pecuária bubalina e bovina desenvolvida em suas margens. Araguari, umcurso de água submetido à degradação ● Geólogo Antônio Feijão Texto: Douglas Lima Revista DIÁRIO - Agosto 2015 - 38

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