Revista Diário - 12ª Edição - Novembro 2015
Pablo – Nós, no Amapá, sempre tivemos um trabalho muito forte nessa área, resultando na consolidação de um laboratório estruturado, comumnível técnicomuito elevado, ao ponto de ser, hoje, o único banco criminológico de DNA da região Norte, comomaior acervo de dados genéticos do Brasil. Antes, entretanto, eu passei por treinamento na Polícia Federal. Diário – Qual foi ametodologia usada na operação? Pablo - Várias equipes foramdeslocadas para o local, mais especi icamente de Recife, Pernambuco, que foi a base da operação. Rio de Janeiro e Brasília, constituídas de pro issionais de várias especialidades na área pericial. Fiquei na base de Brasília, no laboratório da Polícia Federal, encarregado de receber amostras para cruzamento de dados necessários à identi icação. Diário – De que era constituído essematerial? Pablo – Tratavam‐se de fragmentos de músculos das vítimas e material de familiares. Recebemos, no total, 51 amostras de vítimas, das quais apenas uma não foi identi icada, porque não se tratava de material humano, podendo, até mesmo, ser fragmento de algum animal doméstico que se encontrava no voo. Diário – Chegou a uma conclusão de initiva sobre as causas do acidente? Pablo – A tese mais aceita é que pode ter havido um congelamento da sonda que dá parâmetros de altitude e velocidade, por exemplo, aduzindo‐se que numprimeiro momento os pilotos não sabiamo que estavam fazendo, perderam a noção de altitude e/ou velocidade, o que pode ter sido decisivo para aquele desfecho trágico. Há um conjunto de hipóteses que devem ser levadas em conta, não só falha humana. Tive informações através da Nasa, a Agência Espacial Americana, que entre a América do Sul e a Europa é uma região de muitas ondas eletromagnéticas de origemdo espaço, tanto que as aeronaves sofremquando estão em altitude muito signi icativa, através do impacto de raios. Pode ter ocorrido que, para fugir de uma tempestade, os pilotos tenhamoptado por subir mais, acabando por serem atingidos pelos rádios decorrentes das ondas eletromagnéticas. Diário – O banco genético criminológico do Amapá é uma realidade, e hoje é referência para o país. Como funciona? Pablo – Trata‐se, semdúvida, de uma conquista inestimável, porque através do banco genético já conseguimos elucidar muitos crimes, tanto viabilizando a condenação de culpas, como tambémna proclamação de inocentes acusados injustamente da prática de crimes. O Amapá saiu na frente, e hoje temos omaior acervo de dados genéticos do país. Nós temos umbanco integrado ao per il genético nacional, com amostras de condenados e suspeitos da prática de crimes hediondos, principalmente estupros, a partir de 2012. Isso foi possível porque o Amapá ocupa o primeiro lugar no Brasil emnúmero de condenados. Para que se tenha ideia, só no Instituto de Administração Penitenciária, o Iapen, coletamos 350 amostras entre o imde 2013 e 2014. Diário – Como vocês conseguiramessa façanha? Pablo – T eve toda uma conversa com a direção do Iapen, Sejusp, Delegacia Geral, Vara de Execuções Penais e Ministério Público. Tudo foi feito e é feito dentro da legalidade, sob o amparo de uma lei federal de 2012, que obriga todos os condenados por crimes violentos, hediondos, a se submeterem à identi icação criminal, inclusive DNA. A parte técnica trabalhada não é medida punitiva, mas sim administrativa, como objetivo de ampliar e aprofundar o leque de investigação que resulta tanto emuma eventual condenação como absolvição. Diário – Muita gente acha que o exame de DNA é direcionado apenas para investigações criminais, como forma de atribuir culpabilidades... Pablo – Esse conceito precisa ser mudado, porque o banco de dados armazenados tem sido e será vital para encontrar pessoas desaparecidas, identi icar ossadas, esqueletos encontrados. É tudomais amplo do que se imagina. O repertório judicial brasileiro, e mesmo mundial, é rico em exemplos de acusados de praticar crimes acabarem se transformando em vítimas, porque, muitas vezes, são acusados através de reconhecimentos feitos combase no emocional, oumesmo pelas circunstâncias do crime, mas acaba se comprovando através do exame de DNA que é inocente. Diário – Já aconteceu algumcaso assimno Amapá? Pablo – Já, sim, semdúvida, vários casos. Omais recente, que marcoumuito, foi umhomicídio ocorrido dentro do Iapen. Umpreso provisório tinha praticamente acabo de dar entrada, e foi acusado pelos demais detentos de ser o autor do crime. Só que o verdadeiro autor foi identi icado por nós através de uma mancha de sangue na camisa dele. Fizemos o exame e icou comprovado ser ele o autor do homicídio. Se não fosse o exame de DNA, o verdadeiro culpado icaria impune, enquanto o ‘’laranja’ seria condenado por um crime que não cometera. Revista DIÁRIO - Novembro 2015 - 57 Operaçãode resgate, noOceanoAtlântico, às vítimas e destroços doAirbus 330que caiu no oceanoAtlântico com 228pessoas abordo, em2009.
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