Revista Diário - 12ª Edição - Novembro 2015
Personalidade O professor Raimundo Pantoja Lobo aos 10 anos de idade foi com os irmãos abandonado pelo pai, um próspero fazendeiro que, viúvo, ao se unir com outra mulher, resolveu desunir-se da prole. Tendo que praticamente viver por conta própria, o menino se empenhou na lida de caçar, pescar e mariscar nas terras, lagos e rios de Aporema. Tornou-se exímio nas três atividades. Aos 18 anos, pescando, Lobo conheceu o então deputado federal Coaracy Nunes, um anjo que lhe surgiu na vida, quem o colocou para estudar. Depois, o professor se tornou uma das maiores autoridades da Língua Portuguesa no Brasil. Texto: Douglas Lima D ia 10 deste mês uma das maiores inteligências do mundo completou85anos de idade. Essa inteligência se chama Raimundo Pantoja Lobo, o famoso Profes‐ sor Lobo do Aporema. Aporema é umdistritodomunicípio amapaense deTar‐ tarugalzinho. Nessa localidade, o caboclo Lobo viveu uma impressionante práxis com a natureza que lhe deu a inspi‐ ração de trazer a lume duas obras literárias – Respingos de Filoso ia e Ecologia e Respingos de Ecologia Empírica. Os dois livros foramas primeiras obras doAmapá, escritas por amapaense, voltadas para o conhecimento cientí ico peda‐ gógico da natureza. Raimundo Lobo migrou para o papel a forma de viver de toda a fauna do seu querido Aporema. Ele mostra com sapiência, fruto de suas acuidadas observações, os modos de existência de espécies como o tambaqui, pirarucu, tucu‐ naré, escorpião, a garça e a quase in inidade de bichos exis‐ tentes naquela comunidade. Oprofessor aindapublicououtro livro, Pensamentos so‐ bre o Amor, onde ele dá 342 denominações a esse senti‐ mentoque permeia a vida de todos os seres humanos. Uma das denominações é a seguinte: “O amor é uma plantinha extremamentemelindrosa: passamos longos anos aduban‐ do‐a, porémpodemos perdê‐la num instante”. Assim, de primeira mão, podemos pensar que Lobo teve uma vida estudantil normal, até se formar professor e depois, então, escrever livros. Mas não! o caboclo do Aporema só sentou num banco de escola aos 18 anos de idade, absolutamente analfabeto de conhecimentos es‐ colares e livrescos. Passou toda a infância, adolescência e parte da juventu‐ de longe, muito longe de escola, de professor, de livros, ca‐ dernos e lápis. Nesses períodos sempre esteve pescando nos rios e lagos doAporema, e observando os procedimen‐ tos de uma das suas paixões, a natureza. Quando Raimundo Lobo tinha 18 anos de idade, Deus conduziu ao Aporema o então deputado federal Coaracy Nunes, que gostava de pescar. Para orientar o político na pescaria, a comunidade apontouo rapaz chamadoLobo, fa‐ moso como exímio pescador, caçador e mariscador. Muitos peixes foram isgados. Coaracy Nunes icou sa‐ tisfeito como resultado daquilo que ele fazia mais por es‐ porte do que pela sensação gostosa que se tem de tirar o peixe d’água e depois comê‐lo. O deputado também gos‐ tou do rapaz que o acompanhara, na verdade icara im‐ pressionado com ele, uma pessoa falante, cheia de sabe‐ doria e extremamente conhecedora da fauna e lora que compunham o seu habitat. Coaracy Nunes percebera que o jovem Raimundo Pan‐ toja Lobo podia progredir na vida, pois era de uma inteli‐ gência fora do comum. Então, resolveu provocá‐lo. O quê você quer fazer da sua vida? A resposta veio num supetão: Quero estudar. Tambémimediatamente odeputado federal pediu um pedaço de papel e uma caneta, e escreveu uma apresentação do aporemense ao diretor da escola da Base Aérea, nomunicípio de Amapá. Professor Raimundo Pantoja Lobo, hoje. Revista DIÁRIO - Novembro 2015 - 22 Analfabeto até aos 18anos, Raimundo Lobo se tornou uma sumidadeda Língua Portuguesa
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