Revista Diário - 12ª Edição - Novembro 2015

Revista DIÁRIO - Novembro 2015 - 19 O demógrafo Carlos Vargas explica que a grandemaio‐ ria dos repasses da União para os estados e municí‐ pios é feita combase no número de habitantes, prin‐ cipalmente os previstos na Constituição Federal, como os fundos de participação dos estados (FPE) e dosmunicípios (FPM). Isso, quantomaior é o número de habitantes, maior é o volume de verbas que saemdo Tesouro Nacional. Segundo cartilha elaborada pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), subordinada aoMinistério da Fazenda, ini‐ cialmente o primeiro critério de repartição do FPM era ex‐ clusivamente populacional, aumentando o valor da cota in‐ dividual conforme aumentava apopulaçãodomunicípio. Ao longo dos anos, esse critério foi sofrendo alterações. Anual‐ mente, os percentuais individuais de participação dos mu‐ nicípios são calculados pelo TCU com o cálculo sendo feito com base em informações prestadas ao órgão até o dia 31 de outubro de cada ano pelo IBGE sobre a população de ca‐ da município e da renda per capita de cada estado. “Como se vê, não mudou quase nada, porque essas informações são prestadas pelo IBGE com base em in‐ formações levantadas pelo próprio instituto, icando es‐ tados e municípios reféns desses levantamentos. Como a direção do IBGE é nomeada pelo governo federal, não há como descartar a possibilidade de adulteração desses resultados para conter o aumento da distribuição com o objetivo de evitar sangrias no Tesouro Nacional”, ponde‐ ra o demógrafo. Recursos paraosestados são repassados deacordo comnúmero dehabitantes P ara quemduvida que os levantamentos feitos pelo IB‐ GE podem não ser reais, basta voltar dois anos no tempo, quando o Instituto admitiu falhas noCensode 2010, especialmente com relação ao luxo migratório de asiáticos para oBrasil. OCenso apontouumcrescimento de 174%entre2000e2010, umtotal de1,3milhãodepessoas, representando 1,09%da população brasileira. Esse aumento teria ocorrido com mais intensidade no Nordeste. O estado do Piauí, por exemplo, teria recebido o maior número, em termos percentuais, de asiáticos. Cruza‐ mentodedados feitos pela jornalistaCecíliaRitto, daRevista Veja, revelou dados surpreendentes: em vez de 1,3 milhão de asiáticos, o Brasil recebeu menos de 75 mil imigrantes da raça amarela, e nenhum deles chegou no Piauí. Com os dados confrontados, o IBGE admitiu que houve umengano. Não foi, porém, apenas o Piauí que concentrou esse ‘en‐ gano’ do IBGE. Em Orizânia, na Zona da Mata mineira, até 2010 não havia um só morador de origem asiática, mas no Censo daquele ano apontou que 10%da população domu‐ nicípiopassarama ser constituídode 10%de japoneses, co‐ reanos e chineses, quando, na realidade, apenas duas famí‐ lias japonesasmoramna cidade. Na época, a então diretora dePesquisado InstitutoBrasileirodeGeogra ia eEstatística, Marcia Quintslr, con irmou a divergência das informações, justi icando que, no contexto de uma operação da enverga‐ dura do Censo, podemocorrer ‘equívocos’. Marcia Quintslr deixou o cargo em abril de 2014, em meio a mais uma grande polêmica: ela não concordou com a interrupção, anunciada pelo IBGE, da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) até janeiro de 2015, em virtude da exigência da legislação do FPE de reformular a metodologia e o requerimento do Senado Fe‐ deral de equalizarmargens de erros constatados em levan‐ tamentos nas 27 unidades da federação. IBGE reconhece falhas no Censo de2010 IBGE garanteque Censo é feito com bases científicas e sólidas O coordenador técnico do Censo de 2010, do IBGE, tecnologista Raul Tabajara, explica que são muitas as técnicas utilizadas para se analisar o trabalho do Censo, e o im‐ portante é que o levantamento, trata‐ mento, apuração e divulgação dos da‐ dos são realizados de acordo comme‐ todologia reconhecida e adotada inter‐ nacionalmente e sob orientações da Organização das Nações Unidas, que são seguidas por todos os seus países membros, porque é com base nessas informações que são elaboradas, im‐ plantadas e implementadas suas polí‐ ticas públicas. “É importante frisar que o IBGE faz recenseamento em todos os anos com terminaçãol zero. Por exemplo, foram realizados em 2000 e 2010, e o próxi‐ mo está previsto para 2020. Nesses re‐ censeamentos ospesquisadores vãode casa em casa, em todos os municípios, sejaemterras irmes ouáreas alagadas,

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