Revista Diário - 10ª Edição - Setembro 2015
O jovem, em meio ao carinho e à atenção da família, passou a dividir os estudos com a atividade de la‐ teral direito do Ypiranga ao mesmo tempo em que recebia convite para atuar em outros times. Mas preferiu ficar no seu clube do coração, representação que aprendeu a amar no fulgor do bafejo espiritual da paróquia a que pertencia e pelas boas amizades que tinha. Espíndola aponta 1976 como o ano da sua vida por ter sido o período que mais conquistou vitórias. Começou a estudar para o Vestibular e a fazer intensos treinamentos no Ypiranga. Mais treinamentos, aliás, tanto que só estu‐ dava durante dois dias na semana. Valeu o sacrifício: ga‐ nhou o título de campeão de futebol e foi eleito o melhor lateral direito do campeonato, disputando comcraques do nível de Castelo, Jonas, Dileco e Temica. No penúltimo jogo do campeonato o placar foi Ypi‐ ranga 1 Macapá 0. E a jogada do gol único da partida foi de Espíndola. Ele passou por três adversários, foi à linha de fundo e cruzou para o centro‐avante Tadeu ou Jasson escorar de cabeça. Terminado o embate, ele foi chamado pelo jornalista ypiranguense doente, Corrêa Neto, que embaixo da arquibancada lhe deu uma nota de cem do dinheiro da época. Era costume, então, torcedores darem agrado em di‐ nheiro a jogadores, “para a cerveja”. Mas com Espíndola não foi assim. Aqueles cem de Corrêa Neto ele gastou to‐ dos em livros para estudar em preparação para a disputa de ingresso para o curso superior. Ele lembra até hoje que mandou comprar os livros em Belém, eram uma trilogia deMatemática que só chegaramemMacapá 15 dias antes da provas. Esse período de tempo ele ocupou estudando ininterruptamente 16 horas por dia. Finalmente, Raimundo Cordeiro Espíndola realizou mais umsonho: passou no Vestibular, depois de dificulda‐ des comobtenção de livros, carência de dinheiro e de onde morar, chegando em determinado momento a residir até mesmo numa república de fuzileiros navais. Como estudante de engenharia, Espíndola também foi brilhante. Ainda fez outro Vestibular, para Matemática, e passou. Foi o primeiro lugar numconcurso paramonitoria de variáveis complexas no Centro de Ciências Exatas e Na‐ turais. Desse concurso, participaram os melhores alunos do Curso de Engenharia e Matemática da UFPA, inclusive um japonês considerado gênio e que tinha vencido um si‐ muladão entre todos os cursinhos de Belém. Premiação: um fusca, carro da época. Formado, Raimundo Cordeiro Espíndola voltou para Macapá, selecionado para tra‐ balhar na Eletronorte. Mas a efetivação no cargo não foi consumada, e assim acabou in‐ do ser funcionário da Companhia de Eletri‐ cidade do Amapá, a CEA. Na estatal, ele im‐ plantou uma eletrificação rural, através de um sistema monifilar retorno pela terra (MRT), que chega a ser 80% mais barato que o Sistema Trifásico Convencional. Hoje, milhões de agricultores são beneficiados por esse sistema. “Não suportei o que fizeram com a CEA. Por isso fui ministrar aula de Cálculo no Cur‐ so de Matemática da Universidade Federal do Amapá, onde me encontro até hoje, po‐ rém agora no Curso de Engenharia Elétrica”, fala Espíndola que, politizado, observa o se‐ guinte: “Hoje, mesmo tendo uma famíliama‐ ravilhosa, muitos amigos, vejo que o Amapá tem poucas chances de se tornar um estado digno para se morar, a médio prazo, porque a maioria dos políticos não pensa no Amapá do futuro, só pensa nela e nos seus asseclas, deixando as futuras gerações de amapaenses compoucas perspectivas de viver melhor”. ● Revista DIÁRIO - Setembro 2015 - 71
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